domingo, 7 de março de 2010

E depois do adeus?

"A vida continua."

"Foi melhor assim, ela já estava em demasiado sofrimento."

Isto é o que tenho pensado desde sexta-feira de manhã, quando recebi uma mensagem do meu pai (porque estava em aula), a dizer que a minha avó já tinha falecido.

Longe vão os tempos em que, por simplesmente olhar para um caixão, eu fugia porque já sabia que ia ter pesadelos com tudo aquilo. Isso aconteceu quando eu tinha 6 anos, e uma das minhas bisavós maternas faleceu. Também já longe vão os tempos em que olhar para pessoas mortas me dava, igualmente, pesadelos. Isso aconteceu quando tinha 10 anos e o meu bisavô morreu.

Estive mais de 6 horas a matutar no assunto (porque estava em Lisboa, em aulas e só depois dessas é que vim para CB), se conseguiria ver a minha avó naquele caixão, morta. Achei mesmo que não ia conseguir, mas consegui. É claro que desatei no maior pranto de toda a minha vida, mas pronto.

A minha avó podia ter muitos defeitos, mas também tinha muitas qualidades. Ela teve 4 filhos, só rapazes, e sempre quis ter uma filha. Tem dois netos, eu e um rapaz. Portanto, estão a ver que, quando eu nasci, sendo a única descendente directa dela que era rapariga, foi uma festa. E sempre foi assim. Eu era a menina dela e eu gostava muito dela.

Sei que foi o melhor para ela e, também, para nós. Ela estava a sofrer e já não conseguia dizer que estava a sofrer, mas só de olhar para a cara dela percebia-se. E nós, quando a visitávamos naquela cama de hospital, também sofríamos e, embora estejamos a sofrer muito agora, sei que foi muito melhor do que continuar a ir vê-la naquele estado.

É de facto incrível o que, em 5 semanas, pode acontecer. Da primeira vez que a fui visitar ao hospital, ainda estava gordinha (como sempre foi), comia bem, falava e ria-se connosco. Mas à medida que as semanas passaram, ela foi piorando: deixou de comer, deixou de se rir para nós (devo ter sido uma das últimas pessoas a quem ela esboçou um sorriso, tudo porque contei uma das minhas piadas parvas e o que ela se riu...), deixou de falar... O último fim-de-semana foi particularmente doloroso para mim, porque num dia ela falava, no outro já não. Segundo a minha mãe, esta semana ainda foi pior...

Mas, de qualquer das formas, no domingo, quando saí da visita, disse aos meus pais que estava com a sensação que aquela tinha sido a última vez que a tinha visto viva. Como a semana passou e nada aconteceu, eu já pensava "Ah, vês, estavas errada, ela é forte e está a aguentar-se", e até já me estava a preparar para voltar o mais cedo possível para ir à visita às 19h.
Quando recebi a mensagem, a minha reacção foi só pensar: "Odeio ter razão!". E como ainda me aguentei muito em plena faculdade, não sei... Deve ter sido uma força maior que se abateu sobre mim e não me fez chorar logo ali naquele momento.

Foram (e continuam a ser) dias muito dolorosos, mas vai passar.

parafina falsificada (se o post não fizer muito sentido, peço desculpa, mas como podem imaginar, não dormi muito nestes dias e ainda estou um bocado away)

3 comentários:

Maria Santos disse...

Há sempre um vazio que fica quando alguem parte!
Mas esse vazio é temporário, assim acredito, porque vai ser preenchido com muitas recordações boas daquilo que vivemos com esse alguem!
Sorri... acredita que a avó está a olhar por ti e de certeza não quereria que ficasses triste!
Afinal... a vida é uma passagem...
Força!

Piston disse...

Pois o meu Avô também se foi embora, há perto de um mês.

Depois do adeus é continuar a viver normalmente e sem deitar fora os minutos preciosos que mais tarde pagaríamos caro para os ter.

Acabaste de deitar à rua 10 segundos a ler isto. Fecha a janela.

Poetic Girl disse...

Lamento imenso. Um beijo grande e força para ti... bjs